1. Como se deu a formação da raça Girolando?
O início da raça Girolando aconteceu em 1979 em uma iniciativa do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) que criou o Programa Pró-cruza. A intenção deste programa era estudar todos os cruzamentos das raças existentes no Brasil com as raças puras de outros países, procurando encontrar aquela que se adequasse a produção de leite e carne em nossas condições topográficas e climáticas. Este programa durou 10 anos e ao final desse período constatou-se que o melhor cruzamento para a produção de leite era o cruzamento do Gir, raça pura indiana, com o Holandês, raça pura européia, unindo a rusticidade do Gir e a alta produção de leite do Holandês, a melhor raça leiteira do mundo. Com isso, a partir de 1989 quando encerrou o projeto Pró-cruza, iniciou-se o Programa Girolando que estudou a formação de uma raça oriunda do cruzamento do Gir com o Holandês.
Em 1996, uma decisão sábia do Ministério interrompeu a figura do cruzamento do Gir com o Holandês instituindo a raça Girolando. A raça Girolando é o cruzamento de animais com 5/8 de grau de sangue Holandês, ou seja, 62,5% de sangue Holandês e 3/8 de grau de sangue Gir, ou seja, 37,5% de sangue Gir. O cruzamento deste Girolando 5/8 com outro animal 5/8 resulta em um animal puro sintético, assim chamado por ser uma raça proveniente de cruzamento.
2. Quais as características zootécnicas atrativas da raça Girolando? E qual a característica que mais chama a atenção para estes animais?
Na primeira pergunta falei que a intenção era achar uma raça que fosse rústica e que produzisse leite. O Gir leiteiro nos cruzamentos em 1989 contribuía principalmente com a característica de rusticidade, mas nos últimos vinte anos o Gir passou por melhoramento genético e além de manter a rusticidade, hoje, temos uma especialidade que é o Gir leiteiro do Brasil, sendo esse o melhor Gir leiteiro do mundo. Por isso, atualmente o Girolando está herdando da raça Gir uma boa capacidade produtiva de leite, além da rusticidade. Juntando essas características com a qualidade inquestionável de produção de leite do Holandês, a raça Girolando “caiu nos braços do mercado brasileiro” pela rusticidade e pela boa produção de leite.
O Girolando é uma raça resistente ao carrapato e com grande capacidade de produzir leite a pasto. O grande diferencial da raça é sua produtividade e rusticidade. Além disso, o Girolando possui liquidez no mercado. As raças puras podem ter picos de preços maiores que os da raça Girolando, mas em quantidade de animais vendidos e em quantidade de leite produzido no Brasil, todos os anos, o Girolando se coloca a frente das outras raças.
3. O Girolando é capaz de produzir leite a menor custo? Por quê?
O Girolando é um animal que possui boa adaptabilidade, sobretudo nos climas mais tropicais e de topografia difícil, também apresenta boa adaptabilidade a alimentação sob pastejo. Isto permite que em épocas de crises do leite seja feita uma adequação da produção no sentido de reduzir ao máximo o custo de produção e não aumentar o volume produzido a qualquer custo. Ao retirar ou diminuir a suplementação o Girolando continua produzindo uma quantidade razoável de leite sem perder em questão de sanidade.
Atualmente nota-se que a preferência nacional é por animais Girolando, com exceção da região sul do Brasil, onde o clima e a topografia favorecem a raças européias.
4. Qual a média de produção leiteira por lactação?
Em 1989, há vinte anos, no controle leiteiro oficial tínhamos uma média de produção leiteira por lactação (305 dias) de 1.900 kg, hoje vinte anos depois esta produção já está passando de 4.000 kg, ou seja, em vinte anos a capacidade produtiva dobrou. Isto foi possível devido ao programa de melhoramento genético que temos feito para fixar o grau de sangue da raça Girolando e também devido ao crescimento inquestionável do Gir leiteiro e a raça Holandesa, sempre muito boa.
A partir dos dois pilares sólidos que são o Gir e o Holandês existe um trabalho de melhoramento genético com o apoio da Embrapa. Com este trabalho de melhoramento genético a produtividade do Girolando cresceu muito. Hoje é uma raça com vantagens inquestionáveis sob o custo de produção de leite.
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Fonte: ABCG
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Dentro do Programa Girolando hoje registramos animais com cruzamentos começando com ¼, quando falamos sobre esta fração estamos sempre nos referindo ao grau de sangue Holandês e a fração que faltar para completar 1 é o grau de sangue Gir. Então, quando falamos ¼, significa que o animal possui ¼ de grau de sangue Holandês e ¾ de grau de sangue Gir, dizendo de outra maneira, 25% de sangue Holandês e 75% de sangue Gir.
Outro grau de sangue que registramos é o 3/8, que significa que o animal possui 3/8 de grau de sangue Holandês e 5/8 de grau de sangue Gir, dizendo de outra maneira, 37,5% de sangue Holandês e 62,5% de sangue Gir. Outro grau de sangue que registramos é o ½ sangue, ou seja, 50% de sangue Holandês e 50% Gir. Registramos também animais 5/8 (5/8 de grau de sangue Holandês e 3/8 de grau de sangue Gir, que corresponde a 62,5% de sangue Holandês e 37,5% de sangue Gir). Se cruzar este animal 5/8 com outro 5/8 resulta em um animal puro sintético que é o maior objetivo do programa.
Temos também outros cruzamentos, o animal ¾ (3/4 de sangue Holandês e ¼ de sangue Gir, que significa 75% de sangue Holandês e 25% de sangue Gir) e o animal 7/8 (7/8 de sangue Holandês e 1/8 de sangue Gir, ou seja, 87,5% de sangue Holandês e 12,5% de sangue Gir). Todos estes cruzamentos são registrados como animais do Programa Girolando.
A Associação Brasileira dos Criadores de Girolando aceita os registros da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa para a raça pura e aceita também os registros da Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro para o Gir puro. Respeitamos os registros das outras raças e estes registros valem para os nossos cruzamentos.
6. Como Surgiu a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando?
No início do Programa Pró-cruza existia uma associação do Triângulo Mineiro chamada Assoleite que ficou responsável por conduzir o Programa Pró-cruza. Quando se chegou a conclusão que o ideal seria o cruzamento de Gir com Holandês, em 1989, optou-se por criar a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando (ABCG) em sucessão a Assoleite. Assim, a Assoleite deixou de existir e hoje existe a ABCG com sede em Uberaba, MG, que é a maior associação de raça leiteira do Brasil.
No ano de 2008 a ABCG registrou 84.000 animais e este ano certamente serão registrados em torno de 95.000 a 100.000 animais, mesmo tendo sido esse um ano difícil em termos de crise econômica mundial. Além disso, o rebanho da pecuária leiteira no Brasil, hoje, é constituído por 10% de animais puros e 90% de animais cruzados, onde destes 90% de cruzamentos mais da metade é Girolando. Estes dados mostram que o estudo feito no passado está sendo reconhecido hoje no mercado nacional.
7. Quais os objetivos da Associação e os projetos em desenvolvimento?
O maior objetivo da ABCG é promover e consolidar o aprimoramento da raça Girolando. Ao longo destes vinte anos a Associação registrou em torno de 1 milhão de animais Girolando.
Em relação ao melhoramento genético, como eu disse anteriormente, contamos com os pilares sólidos que são o Gir e o Holandês. Em parceria com a Embrapa estamos trabalhando o melhoramento genético do Girolando, ou seja, os animais Girolando herdam o melhoramento genético do Gir e do Holandês e posteriormente passam por melhoramento genético. A partir do 5/8 são feitos testes de progênie, este trabalho já está sendo feito há sete anos. Nos testes de progênie são testados touros 5/8 e ¾ e tem como objetivo consolidar esta raça. Em suma o melhoramento começa na base inicial que são o Gir e o Holandês e após certo tempo o melhoramento é feito com os animais Girolando.
Este é nosso grande projeto, consolidar a raça e atingir plenamente o objetivo que o MAPA nos passou. Nós da ABCG entendemos pela grandeza do mercado, pela preferência da raça, que tínhamos uma missão um pouco maior, temos também a responsabilidade de ajudar a viabilizar a pecuária leiteira do Brasil e, por isso, estamos trabalhado muito e temos dois grandes exemplos disto.
O primeiro exemplo é a MegaLeite que terá sua sétima edição em 2010 em Uberaba, MG. Convidamos para este evento as principais raças leiteiras e durante uma semana transformamos Uberaba na capital nacional do leite. Durante esta semana cada raça vem mostrar o seu melhoramento genético, o trabalho de seus associados e fazemos a divulgação do leite. Na MegaLeite mostramos todas as raças para que os produtores escolham a raça que terão em sua produção e a escolha depende de cada produtor que irá analisar suas condições de manejo, a topografia e clima de sua região e também o mercado regional.
Dentro da MegaLeite temos um Projeto chamado Giroleite, onde procuramos levar para as crianças mensagens da importância do consumo de leite, em fim, procuramos trabalhar para que o mercado brasileiro possa consumir mais e tornar a produção de leite uma atividade que retribua o trabalho do homem. Neste momento temos que trabalhar para viabilizar a produção de leite, pois se o leite tiver um bom mercado todas as raças terão benefícios.
O segundo exemplo é o projeto de construção do Centro de Capacitação Girolando (CCG) no Parque Tecnológico de Uberaba. Este projeto foi lançado dia 16 de novembro de 2009. O CCG será construído em um terreno de 12,6 hectares da Embrapa em comodato para a ABCG. O local vai abrigar futuramente não apenas o CCG como também a sede da associação e o Instituto Brasileiro Científico Cultural Girolando.
Neste local teremos infra-estrutura para realizar treinamentos, pesquisas. Teremos o Museu Girolando um local para desenvolver projetos sócio-culturais e registrar a história da raça Girolando, da mesma forma mostrar a história do leite. O projeto prevê a construção 12 instalações a partir do modelo sustentável baseado em ecotécnicas e ecomateriais. Com uma arquitetura verde, o CCG será alimentado com energias renováveis. Queremos mostrar a importância da sustentabilidade ambiental e econômica, mostrando um modelo para todos os pecuaristas que desenvolvem suas atividades no campo. Queremos que o Brasil todo e até as pessoas de fora do país possam visitar o CCG e ver o que se pode fazer em uma propriedade para produzir com sustentabilidade, produzir alimentos de qualidade e preservando o nosso bem maior que é a natureza. E finalmente mostrar para a sociedade como um todo que cuidamos bem da natureza.
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Fonte: Divulgação
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A FeiLeite é uma exposição muito válida, pois ocorre em um grande centro como São Paulo levando à sociedade a oportunidade de conhecer todas as raças de gado de leite, sendo principalmente uma oportunidade para visitas escolares para os estudantes de ensino médio e superior interessados em uma profissão rural.
Em relação a raça Girolando ficamos muito satisfeitos, pois a raça mostrou mais uma vez sua força, já que estávamos com o segundo maior contingente de animais, totalizando 263 animais Girolando. Em primeiro lugar foi o Gir Leiteiro.
O produtor foi a FeiLeite mostrar seu trabalho e a genética de seu rebanho, mesmo neste momento difícil devido ao baixo preço do leite, o qual não está remunerando adequadamente o trabalho do produtor. Acreditamos sempre e não perdemos a esperança que o leite vai voltar a ter preço no mercado e teremos animais de boa qualidade produzindo em melhores condições e neste momento o animal de boa genética será valorizado.
Um número importante de se comentar é que nestes vintes anos do Programa Girolando a produção do Brasil saiu de aproximadamente 7 bilhões de litros de leite por ano para 14 bilhões, ou seja, praticamente dobrou a produção em vinte anos e neste mesmo período o rebanho brasileiro cresceu apenas 15%, assim, esses números mostram que o rebanho brasileiro melhorou muito sua qualidade, em termos de produção. As exposições dão oportunidade para os produtores mostrarem seu trabalho, mostrarem estes resultados do melhoramento genético. Além disso, nestes eventos os produtores podem trocar experiências de genética entre si e com outros empreendedores, e neste sentido a FeiLeite é bastante interessante para pecuária.
9. A ABCG realizou torneio leiteiro na FeiLeite 2009? E qual a importância em se fazer estes torneios?
Quando se mostra a genética, procure-se mostrar a parte de morfologia no julgamento de pista, por isso, para gado de leite o torneio leiteiro é muito importante para mostrar o aspecto da produção destes animais, que com o melhoramento genético o animal pode produzir mais leite. A ABCG realiza torneios leiteiros em várias exposições, inclusive na MegaLeite são feitos alguns torneios. Normalmente os animais de alta produção estão preparados para determinados períodos de exposição.
No passado, quando a FeiLeite ainda se chamava ExpoMilk havia uma tradição maior em se fazer grandes torneios leiteiros. Algumas Associações realizaram o torneio leiteiro, mas na FeiLeite a ABCG optou em não realizar.
10. Há alguma questão relevante que não abordamos nas perguntas e que gostaria de comentar?
Em uma pergunta acima eu coloquei que o momento não era bom para o leite, mas nem tudo é tristeza. Na FeiLeite tivemos a apresentação de um grande especialista na área de leite e também de cooperativismo, ele nos mostrou uma tendência positiva que nos deixou muito satisfeitos. O grande problema do nosso leite é que o preço do dólar no Brasil está muito baixo e com isso nosso produto deixou de ficar competitivo no mercado. Por outro lado, o mercado internacional estava praticando um preço muito baixo porque outros países adotam a política do subsídio e essa política mascarava o preço do leite. Para se ter uma idéia a tonelada do leite em pó chegou à faixa de 2.400 dólares e o custo no Brasil, hoje, é de 3.500 dólares a tonelada.
Devido às chuvas, neste período, os pastos melhoraram e nossa produção de leite aumentou, este fato junto com a baixa competitividade do Brasil no mercado externo que levou a queda nas exportações, acarretou em um excesso de oferta e queda no preço do leite. Recebemos a notícia, nestes últimos dias, que um leilão internacional mostrou que o preço do leite em pó no mercado internacional já está na faixa de 3.400 dólares a tonelada e com tendência de alta, com isso, o mercado brasileiro vai voltar a ficar competitivo.
Se o Brasil começar a exportar irá equilibrar o mercado, a nossa oferta vai ficar condizente com a demanda interna e o preço será mais bem remunerado. Esta notícia é um alívio e esperamos otimistamente que neste mês de dezembro ou em janeiro os preços estejam remunerando melhor o esforço do homem do campo.
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